Em pé. Procópio, Edvaldo, Antenor, Flávio, Toninho Cerezo e Pompeu.
Agachados. Guerino Neto, Serginho, China, Ângelo e Reis. Uma máquina.
Prestes a estrear na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em
1972, o
Nacional
precisava de uma estratégia para não fazer apenas figuração na elite do
futebol. Foi então que a diretoria do clube resolveu mandar a Belo Horizonte o
dirigente Maurício Costa, a fim de procurar talentos das categorias de base do
Atlético-MG, então campeão nacional. A iniciativa não só deu certo como também
ajudou a divulgar o nome do representante amazonense, que foi o berço de craques
internacionais na década de 1970. Hoje, eles são o tema do terceiro capítulo da
série em homenagem ao centenário do Leão da Vila Municipal.
Tudo começou
após um amistoso entre o Nacional e o Atlético-MG em 1970, na pré-inauguração do
Estádio Vivaldo Lima, logo após um jogo festivo entre a Seleção Brasileira e a
amazonense. A vitória do Galo Mineiro por 4 a 0 chamou a atenção dos
nacionalinos, sobretudo a atuação de um atacante chamado Lacy. Convidado para
disputar pela primeira vez a Série A do Brasileirão dois anos depois, o Naça não
perdeu tempo e foi atrás do time de Minas Gerais.
Maurício Costa
viajou até Belo Horizonte, de onde voltou com o meia Danival e os atacantes
Lacy, Pedrilho e Ismael, além de Campos, então desconhecido jovem de 19 anos,
todos emprestados para a disputa do Campeonato Brasileiro. A base campeã
estadual de 1972 foi mesclada com os mineiros importados e o Naça, enfim, estava
pronto para estrear no Campeonato Brasileiro.
Quem presidiu a
delegação do clube em todas as viagens daquela competição ainda guarda na
memória cada detalhe. Privilégio de Manoel do Carmo, o Maneca, que era o
representante administrativo do Nacional em cada viagem. “Eu era presidente,
supervisor, diretor, porque as dificuldades eram muito grandes. Nós não tínhamos
condição de formar uma delegação constituída de 30 pessoas. Hoje tudo isso é
profissionalizado”, lembrou.
E a primeira
aventura do time amazonense foi em Salvador, onde foi derrotado pelo Bahia por 1
a 0. Três dias depois, o Naça traria para Manaus o Flamengo, com quem empatou em
0 a 0 para um grande público no Estádio Vivaldo Lima. No jogo seguinte, foi a
vez do Vasco da Gama visitar Manaus e vencer o Nacional por 3 a 1.
Autor do gol de
honra, o jovem Campos ganhou a condição de titular no jogo seguinte, diante do
ABC, em Natal. E ele aproveitou bem a chance. Ao marcar três gols, o atacante
ajudou o Leão a arrancar um empate fora de casa e iniciou uma campanha
surpreendente, que lhe rendera a vice-artilharia da competição com 14 gols,
atrás apenas de Dario, que marcou 17. “Evidentemente que com esse jogo ele se
tornou um ídolo da torcida. Na volta, a torcida estava eufórica esperando o time
no Aeroporto de Ponta Pelada”, lembrou Maneca.
Apesar de um
início de campeonato resistente aos grandes, o jogo do ano para o Nacional ainda
estava por vir. “A partida seguinte foi contra o Corinthians, no dia 29 de
setembro de 1972. Foi histórico porque foi a primeira grande vitória de uma
equipe do Amazonas contra um time de primeiro nível do futebol brasileiro. O
Corinthians estava repleto de jogadores da Seleção Brasileira na defesa e o
Campos desmoronou aquela zaga toda e marcou dois gols. Vencemos por 2 a 0”,
recorda <br/>Maneca.
Sem perder para
nenhum clube paulista no Vivaldão, o Nacional encerrou a campanha de 1972 na 21ª
posição entre 26 times. Embora o clube repetisse a mesma colocação no ano
seguinte, o desempenho teve uma significativa melhoria, afinal, tinha aumentado
para 40 o número de participantes. Para 1973, a estratégia dos dirigentes
nacionalinos foi mantida, jovens da base do Atlético-MG foram emprestados e,
entre eles, estava um craque novamente.
Acompanhados do
técnico das divisões de base do Galo, Barbatana, chegaram ao Nacional para a
nova temporada os mineiros Luís Florêncio, Louro, Newton, Eurico Souza,
Serginho, Ângelo, China, Flávio, Guerrino Neto e Toninho Cerezo, este último só
não foi dispensado pelo Galo graças ao Naça. Apesar do desempenho agradável no
Brasileirão, esse grupo não conseguiu conquistar o título amazonense de 1973,
triunfo da Rodoviária.
Em 1974, os
empréstimos permaneceram como principal trunfo do Naça. Como resultado, mais um
craque surgiu em terras amazonenses. Tratava-se de Paulo Isidoro, que antes de
servir a Seleção Brasileira em 42 oportunidades, foi campeão amazonense com a
camisa do Nacional em 1974. Em três meses de “intercâmbio”, ele marcou quatro
gols em sete partidas no Amazonas. “O Nacional faz parte do sucesso que eu tive.
Tive a oportunidade de ir para o Nacional e logo depois servir a Seleção
Brasileira”, reconheceu.
Cerezo
e o tambaqui De todos os jogadores que passaram pelo Nacional,
nenhum teve tanto sucesso posterior quanto Toninho Cerezo. Quase dispensado pelo
Atlético-MG em 1973, ele foi emprestado a pedido do técnico Barbatana,
comandante do time juvenil do Galo que foi contratado pelo Leão da Vila
Municipal. Na base do tambaqui e do tucunaré, Cerezo ganhou força física e
técnica em Manaus para brilhar até na Itália.
Em recente
entrevista concedida à Rádio Jovem Pan de São Paulo, ele lembrou dos apuros que
passou antes de chegar a Manaus. “Eu tive uma felicidade muito grande com isso
porque era muito jovem e ia ser mandado embora. Foi quando o Barbatana foi
contratado pelo Nacional e me levou junto”, <br/>revelou.
Cerezo ficou
por toda a temporada no Nacional antes de retornar ao Atlético-MG para ser
titular. “Passei uma temporada e disputei um Campeonato Brasileiro pelo
Nacional. Chegando a Manaus, passei a comer tucunaré, tambaqui e banana todo
dia. Eu cresci, também com treinamento profissional e evolui muito tecnicamente
e fisicamente. Para mim, foi um ganho”, ressaltou o ídolo.
Após brilhar no
clube de origem, Toninho Cerezo foi negociado para jogar no futebol italiano,
onde defendeu Roma e Sampdoria. Ele jogou pela Seleção Brasileira do ano de 1979
a 1985, participando das Copas do Mundo de 1978 e 1982. Como treinador, Cerezo
teve experiências no Japão, na Arábia Saudita e nos Emirados Arabes Unidos. Seu
último clube foi o Vitória-BA, ainda este ano.
Campos
encantou a torcida nacionalina em 1972, mas caiu por causa da bebida
Gols,
estrelato e álcoolPara algumas promessas mineiras, a experiência no
Nacional foi apenas um estágio. Para Campos, uma oportunidade de mostrar que não
precisa ter mais de 20 anos, tampouco jogar por uma equipe da elite para se
mostrar um craque. Aos 19 anos, ele marcou 14 gols pelo time, por pouco não foi
o artilheiro do Brasil em 1972, mas caiu diante de um problema que o impediu de
sonhar mais alto na carreira: o álcool.
“Ele gostava
muito de sair, participar de festas. Era muito requisitado. Às vezes,
extravasava na bebida. Até mais do que deveria como atleta. Ele superava isso
pela juventude, mas é claro que essas coisas refletem depois. Evidentemente que
por ele não ter se cuidado, o Campos não chegou ao estrelato que merecia”,
lamentou Maneca.
Atualmente em
Pedro Leopoldo-MG (a 46 quilômetros de Belo Horizonte), sua cidade natal, Campos
lembra os bons tempos com alegria, diz que tem vontade de “recomeçar em Manaus”,
mas não comenta sobre a bebida. “Levei o nome de Manaus para o Brasil inteiro.
Hoje isso é mais fácil, mas realizei minha vida em Manaus. Tenho vontade de
voltar e dirigir um time”, revelou.
Quando retornou
ao Atlético-MG, em 1973, Campos marcou 15 dos 34 gols da equipe no Campeonato
Mineiro e se tornou artilheiro. Ele chegou à Seleção Brasileira para a disputa
da Copa América, em 1975, no ápice de sua carreira. Voltou ao Nacional em 1982,
mas sem a mesma performance.
Dadá
e Edu formaram o ataque campeão do Nacional em 1984
Veteranos de
1984Ex-Atlético-MG, talentoso, porém veterano. Dario ou Dadá
Maravilha chegou ao Nacional em situação diferente dos craques que aportaram em
Manaus na década de 1970. Aos 39 anos, o goleador foi chamado para disputar o
Campeonato Amazonense de 1984 pelo Nacional após algumas partidas amistosas em
Manaus. Em parceria com Edu, ex-Santos e também em fim de carreira, ele foi
campeão e artilheiro da competição com 14 gols.
“Faltava um
finalizador no Naça. Cheguei em Manaus e arrebentei a boca do balão”, brincou
Dario. Dono de bons desempenhos na capital amazonense, o artilheiro fez justiça
a uma de suas frases marcantes: “Com Dadá em campo, não tem placar em
branco”.
E, de fato, não
teve. Foram 14 gols em 12 jogos no Estadual, média superior a um gol por jogo.
Dario lembra que ainda teve quem duvidasse do seu desempenho aos 39 anos.
“Fiquei muito chateado porque diziam na imprensa que eu não ia fazer nada, mas
isso me motivou”, lembrou.
Dadá Maravilha
tem como principal recordação a participação do Naça em um torneio no Marrocos.
“Falaram que o Nacional era de segunda divisão e queriam enfrentar o Fluminense.
O técnico veio falar comigo e eu disse que sou tricampeão mundial. O príncipe de
lá me achou ousado, me chamou de doido, mas vencemos de 6 a 0, sendo 5 gols
meus”, ressaltou.
Antes do
Nacional, Dario já tinha sido artilheiro em oito estaduais. A última vez foi
defendendo o clube amazonense. Assim como Edu, ele permaneceu em Manaus por
pouco mais de um ano. Hoje, ele é comentarista esportivo na televisão.
Águia de aço.